segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Viver de encantos


A admiração é o resultado de uma surpresa positiva. Quando algo nos invade com uma luz que desperta em nós ecos de histórias passadas e que nos orienta para coisas muito fundamentais. Muitas vezes, estas surpresas são sinal de que se foi criando um espaço para disposições, mesmo de forma pouco calculada.

O desejo é um dos maiores mistérios para mim. Entre o apetecer coisas imediatas e o desejar coisas que hão-de vir, movo-me muitas vezes entre o estar realizado e o estar incompleto. Parece-me, porém, que o desejar é já uma forma de plenitude, como um caminho que está a começar.

Desejamos coisas muito boas para nós. A maior delas devia ser a santidade. Então se desejas ser santo, começa já a sê-lo. O caminho começou. Talvez seja isto um pouco o Advento. Recordar uma iniciativa surpreendente, Deus entre nós, e isto, se pensarmos bem, é uma enorme surpresa. É um verdadeiro encanto este fascínio de Deus pelas nossas coisas.
Neto Quirino

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Só eu e Deus


Eu não tenho jeito pra rezar, não sei falar como um santo falaria.
Palavras me resumem e me prendem no mesmo lugar. Em silêncio, eu voaria.
E quanto mais me enfeito mais eu me disfarço, falo coisas que eu não quero, palavras que eu não penso.
Orações bonitas de um fariseu que, entre salmos e provérbios se perdeu.
Quero uma oração simples como o ar. Quero conversar coração a coração.
Sem palavras ou rimas complicadas, só eu e Deus, eu e Deus.
Eu já tentei, há tempos enfeitar, incrementar,, disfarçar a minha voz.
Com rimas, versos e palavras eu não sei ser eu sem te falar de coração quando eu erro e preciso de perdão.
E quanto mais me enfeito mais eu me disfarço, falo coisas que eu não quero, palavras que eu não penso. Orações bonitas de um fariseu que, entre salmos e provérbios se perdeu.
Quero uma oração simples como o ar. Quero conversar coração a coração.
Sem palavras ou rimas complicadas, só eu e Deus, eu e Deus.
Se palavras me faltam, prefiro calar.

Oração Simples - Bruno Camurati

https://www.youtube.com/watch?v=WtWZDkIhEGk

terça-feira, 18 de setembro de 2012

De regresso!


Como se os pensamentos fossem montanhas altas que repousam para além de planícies paradas... trazem sombras de nuvens a correr com o vento. E fica difícil agarrar coisas que fossem importantes para dizer agora, as que soassem como a música certa para o momento.

Um tempo de ausência. Grande, com a falta que me faz. Talvez por ter um coração cheio de experiências e pouco tempo para as ver deslizar calmamente para uma tela onde pudesse pintar aquilo que ficou. É agora o tempo de deixar emoções presas a momentos e encontrar verdades construídas, pouco a pouco, entre alguns vazios e outros momentos insuportavelmente cheios.

Seria a caneta que escreve de novo em papel que se deixou acariciar pelo pó... que soube esperar. Ouve-se a porta a bater, passos apressados, um cadeira que se arrasta, suspiro, ouve-se música de fundo. Começou um ano de reconquista de desejos de perfeição. Aquilo que marca a perfeição é que nunca está completa, senão, seria apenas um espelho para o qual posso olhar, mas brilha tanto de mim que mal me posso observar. É preciso uma luz suave, a calma de ser verdadeiro, o gosto de ser grande.

Neto Quirino

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Dos inícios


Um recomeço tem tanto de promessa como de risco. Marca-se um compromisso, afinal é aquilo que define o que fazemos. Escrever para mim é um exercício de libertação, gostaria até de o fazer mais vezes.
Talvez possa dizer que desta vez é que é. Mas podemos voltar insistentemente ao mesmo, recusando fazer o que devia ser feito, não por vontade própria, mas porque vamos deixando andar. E dizemos que é falta de tempo, falta de inspiração, porque não chegou o momento... mas se esperamos o momento ideal, pomos cinzento em vez de cores, espera em vez de realização e deserto em vez de caminho feliz.
Um recomeço não é só uma força de vontade, é muito mais que isso. É convencermo-nos que somos capazes. No fundo uma experiência de acreditar em nós mesmos revela o amor que nos olha sempre e desde sempre.
 
Neto Quirino

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Motivação


Nem sempre encontramos a motivação certa para nos dedicarmos de alma e coração àquilo que é mais importante em dado momento da vida. No fundo, ficamos com uma sensação de ficar aquém do esperado, por não vermos resultados imediatos, ou porque as coisas têm sempre algum imprevisto.

A motivação nasce de uma certeza que queremos fazer determinado caminho. As metas do nosso esforço, por mais longínquas que sejam, exigem-nos perseverança. É fácil motivarmo-nos a curto prazo, mas quando é algo mais distante, damo-nos conta que o entusiasmo tem altos e baixos.

O mais importante é podermos ter, em relação a nós mesmos, uma espécie de confiança e fé. Acreditar que algo se constrói diariamente quando cumprimos a pequena parte do esforço de cada dia. Não vivemos apenas de grandes realizações, aliás, estas são bastante raras... a qualidade joga-se em coisas bastante mais pequenas.
 
Neto Quirino

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Os pequenos tesouros



Ando meio cansado depois de uns dias vazios. Talvez por estar vazio por dentro, onde as emoções fugiam sem querer encontrar um lugar próprio, onde dessem cor aos sentimentos.

Há dias em que nada nos prende, fica-se só com a lista das coisas para fazer, que vou cumprindo de modo automático. Mas sem fazer disso uma experiência de desolação, perceber tudo como movimentos da alma que levem à sublimidade da Vida e daquilo que escolhi para ela.

Apeteceu-me tirar as memórias das estantes, onde se foram acumulando como peças de museu. Que visito nos dias de nostalgia, em que me apetecia deixar tudo e sair pelo mundo com o essencial às costas.

E fui enchendo as novas memórias do que acontece todos os dias. Não cabem em mim as surpresas dos pequenos instantes... quase tão impossíveis como tocar o Absoluto. Que se pressente, baixinho, sempre, como a brisa.

Neto Quirino

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Ser pleno?


Acredito firmemente que a nossa Vida é tocada de eternidade. Temos todos na nossa história pessoal aqueles momentos que resumem anos de procura e conhecimento. Em que podemos dizer que foi o dia em que me tornei uma outra pessoa, ou que mudou a minha vida. Também os momentos que marcam definitivamente pela negativa, que impuseram rupturas e decisões dolorosas. Em tudo isto há uma dimensão de qualquer coisa de definitivo que pode ser tão libertador, iluminador ou tão destruidor.

Por isso temos sempre atrás e à nossa frente um caminho complexo. Que procuramos que seja pleno, em que tudo seja linear e óbvio... e descobrimos que o que não abunda são as respostas fáceis.

Uma vida plena, não é uma vida cheia...aliás as nossas agendas super preenchidas falam-nos mais de vento do que de mar. A plenitude está em pôr uma cor dentro dos meus espaços vazios, ou cinzentos. Que ainda por cima são espaços que nem sei como os preencher. Talvez seja este o desafio e a surpresa: de deixar que sejam pintados por Outro que sabe muito mais de mim e da minha Vida que eu próprio... E a confiança assim gratuita não é fácil, porque teimo sempre em ser dono de mim.

Neto Quirino

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

É loucura? (mês das vocações)

Tenho vivido alguns momentos muito especiais de encontro com coisas fundamentais da minha vida.
Tenho sobretudo pensado acerca do que significa ser chamado ou, por outras palavras, a Vocação.
Ao olhar para estes anos, consigo ver sempre os mesmos momentos chave, em que fui sentindo que realmente era chamado a ser de Jesus.
Mas agora, com mais tempo, vou me dedicando a olhar para aqueles dias e momentos em que não fui tão atento... e fui descobrindo o seguinte:
  • Que realmente, parece uma loucura este tipo de vida.
  • Que a Vocação nasce de um desejo sutil e sempre incessante, que não termina enquanto não se decide a dar um sim para toda a Vida.
  • Que a Vocação se vive cada dia, todos os dias, numa amizade cada vez mais completa com Deus.
  • E, por último, que a maior graça foi ter sido chamado a esta Vida, por verdadeiramente ter sido escolhido. 

Decidir a própria vida por Jesus, é ter a certeza que temos um caminho de uma profunda realização humana, porque somos escolhidos para uma vida total. Seja ela qual for.
Um padre terá de rezar, um pai de família terá de educar os seus filhos, uma namorada terá de cuidar do namorado, o amigo terá de amparar o amigo. No fundo, cada homem e mulher tem a Vocação para Amar.
E esta não nasce de coisas incompletas, nasce do mais divino que temos em nós. Uma vez dito o Sim, porque a Jesus só vale a pena dizer sim, a vida tem um sentido cada vez mais pleno, mas cuidado como a coisa mais preciosa, dia-a-dia.

Neto Quirino

terça-feira, 31 de julho de 2012

Luz escondida


Aí onde quero ficar, numa procura incompleta que por si mesma já realiza. Percebemos, pouco a pouco, como a fragilidade pode ser a nossa arma mais poderosa. Quem vive em castelos de vento, percebe um dia como o nada pode tocar a Vida de uma forma avassaladora.

E é aí que o caminho se abre à riqueza mais pessoal. Onde se tiram forças de onde não se pensava que existissem. Talvez porque a força vem cá de dentro, bem mais fundo que o chão que tocamos.

Por saber que a força está num dom enorme que vem de longe e vem de sempre. Uma luz escondida que brilha quando todo o resto se apaga. E é esta a mesma de um nascer do sol, a oportunidade de recomeçar, sair e viajar.

Neto Quirino

sábado, 14 de julho de 2012

Conformismo? ... Nem por isso!


Há acontecimentos que são tão habituais na nossa vida. E memórias que nos vão levando nos anos, que deixam de nos impressionar como no primeiro momento, mas que trazem sempre as mesmas sensações, vistas com outra experiência.

Esta imagem da bola no telhado é uma das mais recorrentes da minha infância. Uma linda tarde de jogo acabava subitamente num espectáculo de olhar para um telhado, e já farto de atirar pedras a ver se resolvia o problema, até que se fazia noite.

E passam as semanas e o espectáculo desiludido do acessível inacessível permanece. Mas a vida continua, até que uma bola nova e mais bonita faz esquecer a antiga.

E são estas as emoções pequenas da Vida. Particulares de uma existência que se vai afastando do impossível e que se quer centrar cada vez mais em abraços mais completos e mais reais. E horizontes acima dos telhados das casas. Para o Mundo, para um Universo chamado a ser transformado pela criatividade que me foi confiada.

É de alguma maneira participar de uma Criação impossível para as minhas forças, mas capaz de ser verdadeira quando é muito sincera em gestos pequenos de fazer o Bem.

Neto Quirino

terça-feira, 22 de maio de 2012

O que sou



Hoje gostaria de me tentar convencer a mim mesmo que a perfeição não é um trabalho e uma luta constantes. Custa a acreditar que a meta está próxima, quando cada dia nos damos conta que alguma parte de nós perdeu algo importante. Não avançamos completos, mas no esforço de trazer atrás de nós pedaços de Vida que gostaríamos de ter deixado para trás há muito tempo.


A minha casa é o lugar onde posso arrumar as coisas como quero. Deixo as obras de arte na prateleira, os diplomas na parede e as coisas feias escondidas em caixas debaixo da cama. Convivo entre ilusões e poucas coragens, para ver tudo e abrir cada significado da Vida. Uma casa bem arrumada pode implicar escondimento, ambientes de visita, mostrar o que sou, mas não tudo.


Porém, não consigo esquecer aquilo que escondo e cada dia desejo ir lá, tirar para a luz, limpar, colocar no centro da mesa. E perguntar: porque te assustas? Temos medos muito ridículos, quando não sabemos olhar com gestos corajosos e uma alma enorme. Perfeito. Não sei porque não posso admitir que o sou. Nada é pesado, nada é feio, nada fica escondido, se... se quiser que todos os pedaços de mim sejam meus, e se quiser que toda a luz que tenho ilumine.


Como a luz do sol, que acaricia todas as coisas.

Neto Quirino

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Essencial ou prioridade?

Segundo penso, a vida é para viver no essencial. Quando conseguimos estar por inteiro em tudo o que fazemos, mesmo nas tarefas mais insignificantes da vida, julgo que cumprimos verdadeiramente com o objetivo que nos trouxe aqui.
Um abraço! 
 
 
Uma das maiores dificuldades que podemos sentir no dia-a-dia é a gestão do nosso tempo. Parece sempre que não tivemos tempo para tudo, e que perdemos imenso tempo com coisas que não interessavam. Por vezes, podemos cair no risco de transformar algo muito importante que temos de fazer, seja a oração, seja uma atividade específica, num ponto a cumprir no calendário. E chamamos a isso prioridade.

Mas uma prioridade está ligada profundamente ao essencial. E o essencial não pode ser reduzido a um tempo ou algo a cumprir. É uma atitude de fundo. Vivo o essencial em tudo, e não só nas coisas importantes. É pouco se vivermos o essencial apenas em momentos privilegiados do dia. Se o essencial é o motor de todas as nossas acções, então é um dinamismo que atravessa o nosso dia.

As prioridades são mais exteriores, toques essenciais mais explícitos da ação. Na gestão do tempo é importante não deixar de os ter e procurar. A dificuldade está em tornar essencial aquilo que não é explícito. Mas aí é que se mostra a qualidade da nossa existência, se estamos todos em tudo.

Neto Quirino

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Espera e simplicidade


Sobre a missão de domingo com o meu Ministério...

Nos dias que antecedem momentos grandes da nossa Vida, costumamos sentir alguma ansiedade, para que tudo corra bem, para que estejamos à altura do momento, que seja o melhor dia das nossas Vidas.

Mas é curioso que acabo por pensar que um momento bonito e especial é uma continuação, um continuar a caminhar, um começo mais que uma chegada. É chegar a uma nova paisagem sem ter nada conhecido, mas estar aberto a uma surpresa que ultrapasse todos os cálculos, aquilo que é previsto ou suposto.

É com os pequeninos que se aprende a saborear aquilo que a Vida nos dá e a forma como somos construídos em luz, amor e generosidade. É maravilhoso dar-se conta de como somos privilegiados, como nos é dado tanto mais do que merecemos e como nos resta aceitar com olhar feliz aquilo que acontece.
 
Neto Quirino

quarta-feira, 9 de maio de 2012

O passo a dar

Ao El Brit, povo de Deus.

Se estamos parados a meio caminho significa que estamos a ponto de partir em alguma direção. Não nascemos para ficar habituados ao que sempre aconteceu, nem sequer a boas memórias. O encanto da Vida está nesse querer, por si mesma, ser tempo que passa e nos leva consigo.

É maravilhoso quando temos a experiência de arregaçar as mangas e dar-se ao trabalho para conseguir realizar o melhor de nós. Entre a coragem e a falta de certezas fazemos nascer o que somos já a partir de hoje. Damos valor a tudo sem querer que todas as coisas fiquem imóveis a contemplar-nos. Antes pelo contrário, acrescentamos Bondade e Alegria ao que está à nossa disposição.

Quando existe dúvida, então é sinal que temos entre mãos um dos desafios mais bonitos que podemos ter: o de fazer da nossa história um livro cheio de cores e desenhos, quase recordando os tempos em que, como crianças, desenhávamos um mundo de fantasia que era mais verdadeiro que o que vivíamos. Era uma fantasia de um sonho bem real, e o desejo de o conseguir ver presente.

Neto Quirino

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Limits are options


Não foi assim num contexto muito profundo que ouvi esta frase. Mas faz pensar.

Limites são opções. E quando vivemos o limite, é quando nos sentimos mais movidos a optar. E não é nada fácil algumas vezes.

Querer superar o limite é sempre um instinto de vida, às vezes quase de sobrevivência. Mas é um terreno tão escorregadio. O querer sair depressa demais do limite, pode fazer-nos tomar opções de modo precipitado e acabamos por nos (des)iludir e construir novos limites. Ou tomamos opções que não têm tanto a ver com outras opções fundamentais tomadas em momentos anteriores.

Tenho visto que na minha vida a grande opção perante o limite é parar... olhar e escutar. Tomar consciência dos traços deste desenho, de como se chegou aqui. E seguir a inspiração daquilo que me leva a ser consequente com o que quero para a minha felicidade.

O limite parece um obstáculo a ser feliz. Talvez seja mais uma oportunidade de confirmar as minhas escolhas. Aí um verdadeiro limite, por maior que seja, não me deve levar ao desespero, mas sim a querer ser mais firme. Isso exige calma e paciência... mais que isso, exige amor à Vida.

Neto Quirino

terça-feira, 1 de maio de 2012

Imagens de mim


Creio ser hoje umas das principais características da nossa vida o fato de não encontrarmos facilmente uma única imagem que diga tudo sobre nós. Há imagens que definem bem um momento especial e importante, mas passa o tempo e fica colocado num álbum de memórias felizes. Ou imagens que gostariamos de arrancar das nossas paredes, mas acabamos por nos lembrar delas como momentos de crescimento, acontecido muito tempo depois.

Uma imagem diz o que posso ser agora, mas dificilmente pode dizer o que serei no futuro, a não ser que seja a expressão de um desejo que quero concretizar.

Uma imagem única de mim mesmo poder-se-ia encontrar sobretudo nesta dificuldade. Que o fato de não encontrar uma imagem definitiva me diga a certeza que sou mais do que aquilo que vejo e sinto, mesmo que sejam coisas gigantescas. Isto faz não ficar parado, querer desenhar traços mais concretos, mas feitos com uma paciência a toda a prova, mas que vão fazendo o que sou, com um caminho de beleza cada vez mais brilhante e séria. 
 
Neto Quirino

sábado, 28 de abril de 2012

Resistência


(Sobre a questão da ausência de Deus nas contrariedades da Vida)


A Vida não é fácil, não só por causa das nossas próprias experiências de desilusão, solidão, desencanto, medo, mas também pelo panorama devastador que cada dia é posto diante de nós nas notícias. A ponto de nos deixar sem palavras e perguntarmo-nos como é possível que o mal tenha uma força tão grande, parecendo capaz de orientar e controlar a própria história.

No fundo, todos percebemos o que é o bem e o amor que podemos fazer e que poderia acontecer. Mas é um fato que isso não acontece. Somos quase desafiados ou constringidos a acreditar no bem acima de toda a razoabilidade, até haver forças... até ao momento em que não resistimos mais e atiramos a toalha ao tapete.Ponto final. Mais vale preocupar-me com um equlíbrio de vida possível sem utopias. O meu mundo tem fronteiras muito bem marcadas, onde só entra quem e o que eu quiser. Mas não sou impermeável ao mundo, tudo toca e molha a minha pele, e de repente estou diante de um castelo cheio de brechas na muralha, sem me poder defender. Podemos viver assim toda a vida...


Um professor meu descrevia a vida de hoje como um gigantesco labirinto. E a grande questão não era como encontrar o caminho para sair dele, mas sim encontrar o modo de o habitar, fazendo dele a minha casa. Aprender a perder-me, mais que procurar desesperadamente saídas irreais. Acredito que não podemos olhar o fato de experimentarmos dificuldades como algo que não deveria acontecer. Estaríamos a iludir-nos. A questão está em colocar-me na dificuldade e fazê-la minha, num exercício de verdade que pode doer. Mas só posso mudar aquilo que conheço profundamente, é a dificuldade que me fará crescer em criatividade e serenidade. Olhando a nossa história, vemos que as crises foram momentos essenciais para sermos o que hoje somos. Mas não nos lembramos disso muitas vezes...

Neto Quirino

segunda-feira, 23 de abril de 2012

É o que trago


O que temos para dar são coisas pequenas. Ao menos quando, cada dia, pensamos no que podemos fazer para mudar a nossa vida, ou a vida dos outros para algo melhor ou mais completo. Há outras alturas em que nos é pedido passos de gigante, mesmo que não seja preciso um gesto extraordinário, apenas uma aceitação confiada das coisas da alma.

De todos os modos, a nossa normalidade é cheia de coisas muito comuns, deste tipo de encolher os ombros e dizer que não foi nada de especial. Mas foi grande e foi bonito. Foi disponibilidade nossa de acreditar no bem possível das coisas boas que fazemos cada dia.

Um dia alguém perguntou se fazer sempre o bem é difícil. Acho que não, porque é muito mais natural em nós, é diferente o que se sente depois de fazer o bem, ou quando nos damos conta que o deixamos de fazer. O que é difícil é querer fazê-lo sempre, com uma disponibilidade de todos os dias, sem preguiça e com alegria. Mas a vontade e o sorriso também são naturais em nós...

Neto Quirino

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Felicidade

Obs: Brenito, usei sua foto! :p

Quando poderemos afirmar a nossa felicidade? Parece que sempre a associamos a momentos fugidios e pontuais, em que tivemos a sorte que todas as circunstâncias se combinassem em momentos perfeitos e completos. Mas se passa, quer dizer que seria um completo aparente, um relâmpago de paraíso sonhado e perdido. Ou então não tivemos a capacidade de ir além do momento e perceber a sua eternidade.

A felicidade é uma conquista livre e quotidiana. É uma persistência num olhar que se mantém igual em diferentes paisagens.

A felicidade completa é um futuro e um presente. Sempre a buscamos e encontramos quando descemos em nós e percebemos experiências que nos definem desde sempre. A grande experiência da vida é a sua capacidade de surpreender e desafiar os nossos fundamentos. Põem em questão o material de que somos feitos, entre incapacidades e realizações que nos deixam perplexos do quanto somos capazes quando existimos em confiança e serenidade. Aí nada nos poderá tirar a paz.

Neto Quirino

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Este Mistério


As coisas pequenas escondem mistérios. Por detrás da porta daquilo que me acontece, sou desafiado a ler sinais. Mas sem estar demasiado fixado em querer encontrar mais explicações e sentidos, quando algo é óbvio e simples.

Acredito que o Mistério escondido se pressente além de toda a cor e toque. Em ocasiões especiais, sobretudo naquelas que não se esperam. Talvez o mais difícil seja parar e olhar com outros olhos. Ou, no caso de ser uma coisa menos boa, não querer estar a perceber os motivos. Há sempre tanto que fazer....

Perceber o Mistério requer tempo e coragem. Um coração aberto, e já sensível no começo. Capaz de agradecer e fazer caminho. É mesmo bom quando se descobrem rumos passados nos acontecimentos presentes. Confirmam o futuro.

Neto Quirino

terça-feira, 10 de abril de 2012

Lugares comuns


No fundo do quintal da casa, existe uma zona de arrumações. Para além do muro, estende-se um campo imenso, de céu e árvores. Sem lugar para uma cadeira, nem sítio para estender as pernas e ler um livro. Não fica bonito estar ali, no meio do estendal.

Entretanto, passam meses sem lá ir.... chegou a altura de andar por outras paragens, a vida agita-se assim normalmente sem fazer mal a ninguém.

Numa cidade muito longe, num fim de tarde. Passear pelas ruas escondidas... aquelas que nem entram nas fotografias. Através de muros que escondem os fundos dos quintais. Ouvem-se as vozes, ou o som de qualquer coisa a ser atirada para ali...

Os sons da nostalgia... em cada lugar distante de nós ouvem-se os mesmos gestos, que trazem o calor de casa. Sobretudo aqueles de todos os dias, que despertam aquela vontade de ser mais simples... e mais profundo em tudo o que é comum.


Neto Quirino

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Sabes o que te fiz?


Não sei... sinceramente é difícil perceber a totalidade daquilo que me ultrapassa.

Olhar para a cruz é o que me move a ser feito. Sem perguntar nada nem querer saber nada, com uma só pergunta... Sabes o que te fiz?

Quando recebemos algo grande de mais, ou não acreditamos, ou não somos capazes de ver tudo. Às vezes por medo ou preguiça de corresponder.

Nas coisas do amor, não se devolve nada. Apenas se pode transformar. Isso é grandioso... Um mistério de alguém que morre por mim, só pode fazer mudanças em mim. Não me deixa indiferente, senão, seria uma pedra, ou um lago de águas paradas... E não quero mesmo ficar com esta ideia de que já tenho tudo e preciso fazer pouco.

Não estaria a responder à pergunta.

segunda-feira, 26 de março de 2012

Semana Santa


Tudo o que tem peso e densidade exige espaço onde ficar e permanecer. Entra sem avisar, impõe-se em dignidade e respeito. Existe, manifesta-se. O mistério não pertence às coisas etéreas ou impossíveis, se não, nem sequer nos levantaria questões, nem precisaríamos de fazer perguntas.

Porque é mistério, não se explica. Mostra-se, permite e obriga a uma espécie de ruptura. É quase incômodo suave e persistente, um esboço do sonho que um dia poderei ver concretizado. Um desejo que começa a ganhar carne.

É significativo que este tempo do mistério apareça numa semana que se chama santa. Porque é próprio de Deus exibir-se de modo fascinante: pão que se parte, mãos que lavam os pés, uma cruz levantada, uma luz a despertar no meio da noite mais escura. O mistério vai acontecendo. O Santo fala de Si mesmo. 

Neto Quirino

quinta-feira, 22 de março de 2012

Promessas

Até que ponto construímos o nosso futuro a partir de promessas? Tenho a impressão que há muito poucas coisas na nossa Vida as quais lhes tenhamos dado esta importância. Um contrato de trabalho ou um teste exigem de nós um compromisso e uma série de deveres. Mas nunca nos passaria pela cabeça prometer ao patrão fazer tudo o que ele nos quiser mandar. Quando prometemos, estamos afetivamente envolvidos, voltar atrás seria falhar algo sério com alguém, ou com nós mesmos.

Uma promessa é um risco. E pergunto-me o que estará no fundo de nós que nos torne possível garantir um espaço do nosso futuro a favor de alguém ou de alguma coisa. De certa maneira, alguém toma conta de mim, não pertenço só aos meu desejos, mas faço parte do sonho de alguém, que sem mim não o poderá realizar.

E se tenho tantas dificuldades em, por vezes, prometer a mim mesmo vir a ser melhor, não desisto de arriscar coisas boas minhas. Com todas as consequências, nem que seja para toda a Vida. Isto supera-nos completamente. Prometer é desenhar na areia uma palavra que quer ser definitiva. Que a primeira maré apagará. Mas permanece o movimento da alma que me permitiu um dia ser gigante. E isto é exigente, mas é darmos todo o espaço à eternidade de que somos feitos.
Neto Quirino

quarta-feira, 21 de março de 2012

As certezas

Vivemos constantemente entre passagens, faz parte do caminho de cada dia e do caminho da vida. Passamos de um lugar a outro, de uma relação a outra. Sobretudo alternamos emoções e pensamentos, um mundo complexo que se desenha velozmente como se não fôssemos donos dos traços que fazemos numa folha em branco.

Existem momentos em que temos a possibilidade de ir além do que está diante de nós. Um desses momentos é o final do dia, a irresistível cor do fim da tarde. Esta é uma passagem do dia para a noite, o adormecer tranquilo das nossas atividades interiores. As cores do fim do dia escondem segredos e abraços profundos, que constituem as nossas histórias apaixonadas e as palavras que expressam o que nos vai na alma.

Expressar qualquer coisa de amor nas nossas vidas é uma aventura que nos leva para espaços desconhecidos. Dizer que se ama compromete-nos, porque a palavra é a resolução de uma história, um ponto de consciência que significa uma mudança total da nossa vida. Esta é uma certeza, sentir e fazer sentir amor é a criação de um espaço onde estamos radicalmente, onde nunca mais poderemos deixar de estar.
 
 Neto Quirino

terça-feira, 13 de março de 2012

Vento


Perguntaram-me no outro dia qual era uma das minhas metáforas preferidas. É difícil, porque normalmente associo imagens a estados de espírito, que mudam consoante o humor e aquilo que tenho presente no momento. Mas creio que uma das mais constantes é o vento.

O vento é mistério, alívio, e originalidade. É algo que passa sem tomar conta de nada. Esquece-se rapidamente. É um momento de toque da Natureza. Para mim tem um significado de recordações. Um vento quente do fim da tarde traz o calor do dia e sua história. Que passou por mim, fez-me e continuou.

O vento traz-me lembranças e desafia-me a ser livre e despojado. Muitas vezes trazemos aos ombros coisas tão pesadas que nunca levaríamos para encontros fundamentais. No encontro conosco mesmo, o vento purifica, torna mais ligeiro, olha mais para o futuro que para o presente. Perde e encontra ao mesmo tempo, porque pôe cada coisa no seu lugar certo.

Neto Quirino

terça-feira, 6 de março de 2012

O que falta


Estes dias tenho estado em contato com uma sensação. Este tempo de Quaresma pode ser mesmo um desafio enorme, se deixarmos que as perguntas surjam com naturalidade, sem ter medo delas, mas vê-las como caminhos de certeza, rumo a nós próprios.

Porque é tão fácil termos medo das coisas melhores que temos...

A Conversão está ligada a uma verdade e a um desejo. Tenho-a feito para mim mesmo assim: Que me falta para ser perfeito? É uma mesma verdade, a daquilo que me falta e a da possibilidade de a ter agora. É um grande desejo que se joga numa opção por coisas concretas.

Para ser perfeito, falta-me um coração mais simples, mais encantado. E isto é muito consolador. Se tenho um bom desejo de simplicidade e encanto com a Vida, é porque tenho um coração capaz disso. Isso é um dom, só me falta acertar com a minha possibilidade, já dada, de perfeição.

Neto Quirino

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Tentação


Tentação é uma palavra que nos traz sempre algum medo... talvez por ser a nossa experiência de fragilidade e saber que tantas vezes fazemos e sentimos aquilo que não queremos. Tem a ver com o fato de sermos incoerentes com os ideais e isso por vezes cansa-nos e desgasta-nos.

Mas não nos devemos desanimar, aliás, por sermos frágeis é que podemos buscar as oportunidades de sermos fortes até ao limite de nós mesmos. E porque somos feitos assim, temos de viver com isso de uma forma transformada.

Classicamente, também a partir do Evangelho, há três fundos de tentação: o ter, o ser e o poder. Talvez a história da criação seja o reflexo dos nossos gestos, de estender a mão e querer apanhar um fruto que não nos pertence: e tentamos ser outros diferentes de nós, tentamos ter aquilo que não precisamos e não nos completa, e tentamos ter poder e dominar sobre os outros e as situações.

Mas devemos aprender a ser simples, a ter confiança e a poder servir. Isso é o que mais está ao nosso alcance. Desenvolver num sentido positivo o impulso da tentação, realiza-nos mais do que tentar completar-se com ilusões e frustrações de curto, médio, ou longo prazo.

Meditem...

Neto Quirino

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

O que estiver além de mim


Hoje pensava acerca de ser perfeito e dava-me conta de uma coisa... tem sempre algo a ver com as lutas interiores e o desejo de querer mudar coisas na minha Vida, para ser aquilo que acho que devo ser. A Quaresma é um tempo próprio para isso, e este esforço recebe o nome de conversão, que não é mais que um caminho de decisões autênticas, traduzidas em gestos...

Continuo, porém, a achar que fazemos o nosso sucesso depender de atos possíveis... afinal de contas, a nossa genialidade acaba por ser escrita dentro das nossas páginas pessoais, em papel de vários tipos e formatos, consoante o tipo de personalidade e os dons que se têm.

No Evangelho fala-se de amor aos inimigos, cuidar daqueles que nos fazem mal e de quem não gostamos... é bonito de ouvir... mas é fácil achar que não é uma coisa urgente... afinal, o bem que fazemos a quem amamos parece sempre insuficiente...

Mas este tipo de amor é indicado como caminho de perfeição, não a minha, de ser o melhor amigo dos meus amigos (porque esses podem sempre dizer que o sou). A perfeição do modo de Deus está num amor que tenho dificuldade em querer que seja também o meu modo... não chegam pequenas formas de amor, serei capaz de me converter a outras maiores?

Neto Quirino

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Fontes da Alegria


Tenho-me dado conta que a alegria pertence aos resultados de ter encontrado alguma coisa. Ou algo que se perdeu e, depois de a procurar, se encontra... ou algo que se procurava alcançar há algum tempo e finalmente se conseguiu. Ou alguém que não se via há muito tempo e se reencontra. Ou, finalmente, uma surpresa que muda muitas coisas do presente.

A alegria tem algo de abraço a um presente que acontece ou que acredito que esteja para acontecer. Aí liga-se à esperança e o coração não fica parado no pessimismo e no desânimo, ou na preguiça.

Quando algo ou alguém é encontrado e abraçado, é um presente novo que lança energias para o futuro... um tesouro que não se pode perder, por pequeno que seja. Afinal de contas, cada dia vemos o pôr do sol com as mãos cheias de surpresas...

Neto Quirino

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Respiro...

...e paro na areia, à frente do mar. Aqueles dias em que o relógio não é importante, deixo-me levar num vento forte. Que acalma, que traz mundos de longe e me leva para onde quero ir, na certeza de que encontrei o meu lugar.

Foi também perceber corações que falam debaixo das estrelas e se sentem viajantes. Aprendi que um abraço é tão livre, quando o coração sabe acolher completamente e apenas quer trazer bem e felicidade. Tenho a sorte de encontrar na minha Vida pessoas tocadas pela radicalidade de não desistirem de ser felizes. E o sonho completa-se...
Vivo com paz e felicidade. Não deixo de olhar para o que se tem de fazer... sonhar com amor não é estar desligado do chão. É inclinar-se para as coisas pequenas e fazer delas oportunidades. Sementes que dão árvores e fazem crescer sombras e abrigos. Em paisagens de mar e nuvens, ou com um castelo ao fundo.

Parece um mundo de Fantasia... mas a Vida é sempre algo grande de mais, muito maior que o abismo. É que aí também se encontram as raízes esquecidas.

Neto Quirino

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Em viagem

Tenho vontade de viajar para longe, levando comigo todo o meu mundo. O que torna os passos pesados é pensar demasiado no que perdemos quando saímos dos nossos lugares. Interessa bem pouco para o meu futuro.

A minha história faz-se de memórias e conquistas, mais que sentimentos de ter deixado algo para trás. Deixei o que me podia pesar na capacidade de sonhar com coisas longínquas. Viver um quotidiano de surpresas previsíveis acaba por ser tão pouco brilhante.

Porque no caminho mais livre se descobrem os pequenos encantos, porque não se olha para mais nada, senão para o fato de estar a conseguir caminhar de modo pleno.

Não é que tenha conseguido atingir o que quero, até porque a alegria plena está-me preparada sem que saiba no que vai consistir. Isso é melhor que uma fonte de água fresquinha no meio do deserto.

Neto Quirino

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Fazer com alegria


É bom rodear-nos de coisas bonitas e alegres... que não servem para esquecer sombras, mas para lembrar que estas não são tudo.

Hoje pensei em últimas palavras, e nas coisas que posso dizer que tenho como definitivas... são muito poucas, ou talvez nenhumas... Há uma parte da nossa experiência de ser completo, de verdadeiras formas de amar e ser amado, de certezas de caminhos a percorrer. Mas isto tem qualquer coisa de tão definitivo como sentir o vento.

É uma experiência de liberdade e confiança. É belo sentir o vento no alto da montanha, cheguei ao topo das minhas considerações e à resolução dos grandes dilemas da Vida. Mas passa depressa, fica o regressar de coração cheio as coisas de sempre, com uma nostalgia de ter voado para longe.

Porque o meu definitivo tem uma parte eterna, que nunca posso considerar minha... alguns chamam sorte, fado ou destino... Prefiro dizer que é uma eternidade presente. Vivo no meio de cores que atravessam transparências, e com as quais vivo feliz. 

Neto Quirino

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Apresentação


Apresentado. Entregue, disponível, inteiro. Eis-me aqui. São expressões de coragem e peito generoso, um modo de colocar a vida diante daquilo que for.

A chegada de uma vida ao mundo (ou a cada dia) traz consigo o nascimento de tantas possibilidades de grandeza e maravilha, e também tantas possibilidades de erro e becos escuros. Lugares de comunhão e lugares onde se fica sozinho. Espaços de comunhão e espaços de solidão. É quase inadmissível que uma vida que se deseja boa seja tão contraditória nos seus horizontes e nos seus destinos. Onde está o ponto onde os caminhos se dividem? Qual a fronteira entre a salvação e a perdição?

Cada vez me convenço mais que a questão das escolhas se decide nos seus antecedentes. É uma questão de ter definido um horizonte prévio de felicidade. Uma questão de escolher amar sem saber bem o quê em concreto. E isto tem riscos e tem consequências, mas tem, acima de tudo, uma vida que sabe onde quer estar e para onde quer ir.
 
Neto Quirino

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Transparência


Porque nos escondemos? Onde está a fronteira entre o que somos e pensamos e o que mostramos e dizemos? Tenho pensado bastante no nosso mundo escondido, os segredos inacessíveis, por vezes a nós mesmos. A prudência exige que não possamos falar claramente de tudo o que nos acontece. Podemos nem sequer ter a capacidade de o expressar. Acredito que há um espaço da nossa intimidade que deve ficar apenas para nós.

De fato, incomoda-me quando alguém se expõe demasiado. Há coisas que não nos pertence saber e é triste quando vemos que revelar a intimidade é uma forma de espectáculo consumista. A televisão mostra-nos isso diariamente e dói tanta falta de respeito. Existe um pudor saudável em relação a nós ou aos outros, aquele espaço que ninguém tem o direito de violar, mesmo com as melhores intenções.

Temos em nós este santuário que condensa a nossa história e a nossa personalidade, o núcleo onde dizemos "Eu". A grande dificuldade está em nos olharmos olhos nos olhos e receber aquela onda de desejos e perguntas que nos deixam desarmados. Seria um ótimo desafio podermos conversar tranquilamente com a nossa história, e deixar que ela se manifeste em paz, na serenidade de quem lembra coisas passadas junto à lareira. Assim, este núcleo é transparente a nós mesmos, torna-nos dóceis e capazes de falar de nós de forma natural e serena.

Neto Quirino

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Intimidade ²


Todos temos os nossos segredos, um santuário onde a nossa consciência se encontra ou se esconde. Há coisas em nós que gostamos muito e temos pouca coragem de as fazer brilhar, talvez por não lhes darmos o valor que têm. Há coisas que confrontamos diariamente e não percebemos, gostaríamos de um gesto genial que as resolvesse e afastasse.

Mas somos assim, luz e sombra, desejo e desistência, vôo e medo. Não somos nada diferentes do mundo que habitamos, capazes de sorrir e chorar ao mesmo tempo sem podermos esclarecer tudo. O coração fala de um modo lento e pouco preciso. É por isso que temos pouca paciência conosco. Estamos entre imagens do que fomos e outras do que queremos vir a ser, sem tocar a pedra, cor, letra e som que nos faz hoje.

A capacidade de agradecer, aceitar, perdoar e ser humilde é a nossa maior grandiosidade. Gostamos de nós na medida em que acreditamos no que somos, sem nos escondermos. Sem sermos mais, nem sermos menos. Talvez seja esta a simplicidade que se oferece só porque sim, não tem nada a dizer além de uma alma generosa e que quer crescer em perfeição e bondade. Somos assim, e temos de acreditar todos os dias nisso.
Neto Quirino

sábado, 14 de janeiro de 2012

Intimidade


Entre nós e Deus existe uma linha transparente vertical. Uma experiência de contato com simplicidade que não é construída de qualquer maneira, exige tempo, um espaço aberto de não egoísmo, com dores acariciadas e desejos que vão para muito além do adquirido.

Faço um desenho na areia que acaba no mar, onde a criatividade se dissolve num sonho maior que não se sabe como vai acabar. Talvez seja este o segredo de uma entrega pressentida desde sempre.
Um toque concreto, uma voz que não deixa ninguém confundido. Que parece quase impossível que um dia possa ser ouvida por ouvidos habituados aos ruídos e à pressa.

Muito mais que um castelo construído solidamente em aparências que foram levadas por um vento que vem de longe. Vai mais fundo que os fundamentos, transforma de modo inexplicável este Acontecimento, que é estar somente, para o que puder começar agora.

Neto Quirino

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Sinais


Aquilo que conhecemos bem faz parte de nós e serve para classificar o que acontece à nossa volta. São as nossas seguranças e, ao mesmo tempo, as nossas propostas de Vida para os outros.

Sempre me questionei muito com uma pergunta que me fizeram um dia: "Mas como é que Deus te fala?" De fato, não é fácil explicar. Fala através de sinais.

E estes sinais são coisas estranhas à minha classificação e às vezes bastante surpreendentes. É uma outra proposta de Vida, que me ultrapassa mais do que sou capaz de perceber. E as minhas seguranças jogam-se em algo novo e na abertura a outras possibilidades. Que não me fazem deixar de ser eu mesmo, mas fico, sem dúvida, transformado em muitos aspectos.

Mais santo, talvez, ou pelo menos com maior vontade de o ser...

Neto Quirino

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

1.9.

Hoje é o seu aniversário, e eu só tenho a agradecer a Deus pelo dom da sua vida, e por ela refletir na minha...
Obrigado por tudo o que você é para mim. (você já sabe o quanto é importante). Que Deus me permita estar ao seu lado para o  resto de minha vida. EU AMO VOCÊ!

Feliz aniversário!

Neto Quirino

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Saber estar


Muitas vezes acabamos por nos perguntar, no fim de termos estado com alguém, ou termos lidado com alguma situação mais complicada, se estivemos à altura, se a nossa presença e a nossa ação teve resultados positivos. Também corremos claramente o risco de fazer tudo para que ficássemos por cima, que as coisas se tivessem resolvido a nosso favor, que tivéssemos ganho a batalha.

É muito importante aprendermos com as nossas atitudes e criar disposições para os momentos em que somos postos à prova nas paciências e na superação de conflitos.

Muitas vezes, uma aparente derrota numa luta de argumentos significa criar espaço para a possibilidade de reconciliação e entendimento. Ou uma aparente derrota significa, no fundo, uma vitória do bom senso e do desejo de bem.

O bem das nossas ações e o bom fruto delas nasce de um discernimento capaz de avaliar as boas consequências do nosso modo de estar. Estar na vida e diante dos outros de um modo pre-disposto à amizade muda muito as coisas.
 
Neto Quirino

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Entre o ter e o deixar


Quando tenho a oportunidade de poder rever a minha Vida, e descobrir os pontos significativos, dou-me conta que vamos vivendo sempre num jogo de liberdades. Talvez a característica maior daquilo que procuro são os desafios constantes de dar e esperar receber. E de dar sem esperar receber.

Encontro muitas vezes a complexidade do bem que fazemos na nossa Vida e como isso nos constrói, porque marcamos caminhos nossos e dos outros. E é tão frequente que, depois de determinadas decisões, nascidas de momentos eternos, já não se pode voltar atrás, nem apagar do mapa das nossas referências.

Há dias de liberdade plena, ou um sussurro de dizer que basta um único amor, que nunca deixou de existir desde o dia em que se pôs pela primeira vez o sol. A liberdade maior é desprendida, faz com que o ter tenha a marca do deixar... e caminhar com pouco peso, um coração aberto ao vento e ao mar.


Neto Quirino

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Quia amasti me, fecisti me amabilem


Em sua obra magnífica God First Loved Us [Deus nos amou primeiro], Antony Campbell observa:

A princípio, eu cria que a aceitação de um Deus de amor implicasse uma pequena mudança de atitude, suficiente, mas relativa. Afinal de contas, estava nos lábios de tanta gente. Quanto mais eu trabalhava nisso, mais percebia que a aceitação por fé do amor incondicional de Deus era não apenas tremendamente significativa, mas exigia uma grande mudança de atitude [...] a grande mudança pode ser as imagens que temos de Deus e de nós mesmos. Quão radicalmente se refaz a imagem que fazemos de Deus se levarmos a sério a crença em Deus como alguém que nos ama profundamente, apaixonadamente e incondicionalmente? Quão radicalmente precisamos reconstruir nossa própria autoimagem se nos aceitarmos como amáveis - profundamente, apaixonadamente e incondicionalmente amados por Deus?

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Perspectiva

 
Por vezes olhamos a vida como se fosse através de um vidro que distorce imagens. Falta transparência ou, o que será mais dramático, vontade de purificar aquilo que impede de ver melhor.

A transparência coloca-nos diante de uma pergunta acerca do sentido de nós mesmos, acerca do nosso lugar e do nosso olhar perante o presente e o futuro. Um olhar distorcido não é honesto, e acabamos por não fazer justiça àquilo que queremos da vida. Fazer justiça implica ver alguma claridade entre caminhos que se apresentam confusos. E aí, há que restaurar perspectivas, seja para ver o bem, seja para ver o mau.

Há pessoas que vêem o bem de forma ingênua ou pouco lúcida. E não mudam o que há a mudar. Há outras que vêem o mal de forma agressiva e destruidora. E paralisam-se em críticas e desânimos. A boa medida do olhar é aquela que liberta, seja para apreciar o bem, seja para afastar o mal. Em tudo isto existe uma experiência de libertação, uma experiência de ver-bem.
 
Neto Quirino