quarta-feira, 30 de novembro de 2011

O nascimento das coisas secretas


Há uma vitória definitiva sobre a nossa espera. Tudo o que de maior podemos imaginar torna-se acessível e pertence ao nosso regaço.

Vivemos entre o concreto e aquilo que acreditamos um dia vir a ser nosso. Por isso nos esforçamos, e a Vida faz-se de uma motivação multiplicada em abraços dados ao vento, ou cheiros de rosas de um país longínquo.

A espera de algo Absoluto não nos pode fazer esquecer que nasceu o imenso poder de sermos Filhos de Deus. Em alguém tão pequeno que, numa noite fria, coube numa manjedoura, numa gruta de uma país que ninguém conhecia.

É este o sinal de um Amor infinito. Ser dado no segredo. Se soubéssemos quanto da nossa Esperança está num choro de criança...

Advento *.*

Neto Quirino

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Amanhã


Amanhã deixarei de me queixar ou, pelo menos, fazer o esforço de pensar se antes fui agradecido. Amanhã serei capaz de cumprir um calendário com todas as coisas essenciais, exceto as que não têm lugar para aquilo que o dia me pede. Amanhã sairei de casa com uma paleta com todas as cores para pintar um mundo à minha maneira, mas com a certeza que farei um risco azul no chão, para que alguém o possa seguir e encontrar-se num momento de verdade.

Amanhã seria o dia perfeito se soubesse o que ia ser e acontecer. Seria menos perfeito por ter surpresas? Ou menos perfeito por ter só certezas? O que custa na arte é não saber o que a fantasia esconde. O não saber é nada mais do que a certeza de que a surpresa acontece.

Amanhã terei mais certezas assim...

Neto Quirino

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Sobre ser feliz


PP:

Nestas coisas de preparar as metas, existe um risco que não é preciso correr, apesar de quase ser óbvio. De pensar que um dia serei plenamente feliz e terei tudo o que preciso. Acaba por trazer sempre alguma insatisfação.

E sobretudo não faz olhar para o que sou hoje. Há assim momentos de luz, em que somos envolvidos no gesto de ser amados. E não é uma questão psicológica, ou de me sentir bem, ou de auto-estima, ou de sentir que toda a gente gosta de nós. Até porque essas coisas quase nunca se dão ao mesmo tempo.

É uma beleza que vem do simples fato de existir, e de tocar o Mistério da Vida. Cada respiração, cada bater do coração, cada Eucaristia é plenamente feliz... Constrói-me em cada passo. Faz sonhar com o tempo presente e acredita nas esperanças do futuro.

Um felicidade que nasça de achar que sou feliz, é banal. Porque depende dos dias. A Felicidade que nasce do Ser, de um gesto supremo e criativo, essa é a que dura para sempre.

Neto Quirino

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Quem sou


Sou um mistério para mim mesmo, e talvez seja possível que os outros me conheçam melhor que eu próprio. Talvez porque tenho espaços em mim dos quais penso que tenho o direito absoluto a ser o único explorador. Triste e iludido. E estes espaços são tantas vezes quartos escuros, fechados à chave. Tornei-me dono das minhas próprias prisões. Acredito que damos uma importância excessiva à pouca luz que temos, comparada com a dos outros. Ou ao modo pouco brilhante como estamos perante a Vida, quando sabemos bem que ela nos exige que sejamos sóis luminosos.


Conhecer-me é abrir os olhos e os braços ao que está em mim e fora de mim. Mas às coisas sérias e bonitas, no fundo, as únicas que são realmente... É ser capaz de abrir os lugares escuros e perceber que os monstros são formigas... é deixar que um fogo aqueça a casa. É olhar pela janela da alma e ver que estou na proa, e tenho diante de mim aquela paisagem que nunca pensei ver. Porque estamos continuamente a pensar que estamos bloqueados, traumatizados, condicionados?


Quando aquilo que sou é vento que enche as velas de um barco, a cor onde o artista mergulhou o pincel, a música que faz chorar alguém de consolação. É entre a coragem e a luz que me situo e existo... as minhas sombras são marionetes ridículas, só fazem aquilo que eu faço quando olho o sol... não têm um mínimo de vontade própria.

Neto Quirino