sábado, 27 de novembro de 2010

Quando a consciência se ilumina

"Quando a luz se apaga é que a consciência se ilumina.
As almas são como os morcegos: vêem melhor às escuras."  
Guerra Junqueiro


 

O ponto de partida é esta frase. As imagens da luz e da escuridão fazem uma enorme ressonância em nós, vão além daquilo que podemos refletir. É uma impressão instintiva, percebemos a luz em nós e nos outros, sem saber bem explicar porquê. Fascinam-nos as pessoas de olhar iluminado, e queremos a toda a força conhecer o seu segredo. Um olhar escuro faz-nos desviar o olhar, sem sabermos o que podemos fazer.
Quando nos sentimos iluminados, tudo nos corre bem, temos imensas ideias de coisas bonitas para afaer, crescemos na confiança e na ousadia. O mundo parece pequeno para os nossos desejos. Porém, quando a escuridão é o nosso ambiente, ficamos perdidos, desorientados, o mundo fecha-se até ficar do tamanho do nosso problema, um pequeno canto numa cave, sem grande capacidade para sair dali.
O que quer dizer que a consciência se ilumina quando a luz se apaga? Esta pergunta é um desafio e um confronto com o modo como lidamos com os nossos tempos e situações mais obscuras. Creio não estar errado, se propuser que são exatamente os momentos de escuridão onde encontramos a nossa verdade. Um dos nossos maiores medos é enfrentar a dúvida, a desesperança e o fato de não nos sentirmos completos.
Querer viver sempre na luz é bom, na medida em que somos continuamente desafiados a alargar os nossos horizontes e a não ficarmos fechados em nós. Mas pode ser um risco, se formos ingenuos ao ponto de querer a toda a força ser iluminados sem aceitar as nossas sombras, e vivemos tantas vezes numa aparência, quando essa luz não passa de iluminação artificial, lâmpadas coloridas e neons publicitários que, no fim de contas, dizem pouco de nós. Fazemos parte do sistema, que evita todo o contato com a realidade paradoxal da vida.
Nas alturas em que a escuridão é o nosso mundo, temos a oportunidade de partir do que somos: dúvida, incompreensão, fragilidade. A um certo momento da nossa Vida, o confronto com a escuridão é necessário e salutar, poder dizer com toda a simplicidade: "Também sou isto, mas isto não me impede de viver, antes pelo contrário".
A nossa consciência ilumina-se a partir de dentro, e tornamo-nos mais transparentes, olhamos para nós, ao mesmo tempo que uma luz de aceitação vai tornando os limites mais claros, até que percebamos que a fragilidade é a nossa fonte mais autêntica de força. Ser conscientes, não pelo pensamento, mas na intuição, no fundo, amarmos o nosso presente, seja como este for.
 
Neto Quirino
Pax et Bonum!

Um comentário: