sábado, 18 de dezembro de 2010

Ver, sentir, confiar


Se escrevesse num diário os sentimentos de cada dia, certamente iria visitar muitas vezes as páginas mais coloridas. Temos a necessidade de regressar aos tempos em que um dia ouvimos claramente o nosso nome e encontramos a nossa casa perfeita, arrumada, na paisagem que criamos. Porém, à medida que passa o tempo, vamos escrevendo páginas com canetas gastas e as cores vão perdendo força, sem percebermos porquê.

A Vida faz-nos crescer, somos cada vez mais completos e mais complexos; e o que um dia seria óbvio acontecer, hoje é uma miragem, ou uma saudade. Temos nas mãos uma possibilidade de escrever cada dia a nossa história. Mas o que já existiu, não serve para escrever o que hoje sou e me acontece. Simplesmente vamos virando páginas... sucessivamente.

Acredito que aquilo que uma vez foi dado e conquistado não se perde nunca. É esta a nossa marca de eternidade, o poder criar a partir da matéria que são os nossos dias, mesmo que seja terra seca e vasos quebrados. A força que um dia moveu as minhas mãos não deixa de as fazer mover agora. O que tem de ser construído é mais exigente, mas confio que o resultado será uma obra mais perfeita do que posso imaginar.


PS: A questão da ausência de Deus, tenho-o sentido muito pessoalmente, aparece nas alturas em que as coisas se complicam. E quando mais precisaria de Deus, mais encontrei um silêncio incapaz de responder às minhas perguntas. Mas fui me dando conta de que fui eu que mudei e deixei de estar atento à minha profundidade, sem a fazer crescer comigo. Entretanto a vida muda, mas as raízes permanecem pequenas e com pouca força para me agarrar quando há vento forte. Regressar à profundidade ajudou-me a descobrir respostas que nunca tinha pensado. E percebi que Deus falava, mas de um modo que eu já não conseguia ouvir. Falava-me daquilo que me assustava e preocupava, precisamente aquilo que evitava pensar. E Ele foi paciente comigo e eu fui paciente comigo. Amei o hoje. E as raízes cresceram...
Neto Quirino

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