sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Tentação


Tentação é uma palavra que nos traz sempre algum medo... talvez por ser a nossa experiência de fragilidade e saber que tantas vezes fazemos e sentimos aquilo que não queremos. Tem a ver com o fato de sermos incoerentes com os ideais e isso por vezes cansa-nos e desgasta-nos.

Mas não nos devemos desanimar, aliás, por sermos frágeis é que podemos buscar as oportunidades de sermos fortes até ao limite de nós mesmos. E porque somos feitos assim, temos de viver com isso de uma forma transformada.

Classicamente, também a partir do Evangelho, há três fundos de tentação: o ter, o ser e o poder. Talvez a história da criação seja o reflexo dos nossos gestos, de estender a mão e querer apanhar um fruto que não nos pertence: e tentamos ser outros diferentes de nós, tentamos ter aquilo que não precisamos e não nos completa, e tentamos ter poder e dominar sobre os outros e as situações.

Mas devemos aprender a ser simples, a ter confiança e a poder servir. Isso é o que mais está ao nosso alcance. Desenvolver num sentido positivo o impulso da tentação, realiza-nos mais do que tentar completar-se com ilusões e frustrações de curto, médio, ou longo prazo.

Meditem...

Neto Quirino

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

O que estiver além de mim


Hoje pensava acerca de ser perfeito e dava-me conta de uma coisa... tem sempre algo a ver com as lutas interiores e o desejo de querer mudar coisas na minha Vida, para ser aquilo que acho que devo ser. A Quaresma é um tempo próprio para isso, e este esforço recebe o nome de conversão, que não é mais que um caminho de decisões autênticas, traduzidas em gestos...

Continuo, porém, a achar que fazemos o nosso sucesso depender de atos possíveis... afinal de contas, a nossa genialidade acaba por ser escrita dentro das nossas páginas pessoais, em papel de vários tipos e formatos, consoante o tipo de personalidade e os dons que se têm.

No Evangelho fala-se de amor aos inimigos, cuidar daqueles que nos fazem mal e de quem não gostamos... é bonito de ouvir... mas é fácil achar que não é uma coisa urgente... afinal, o bem que fazemos a quem amamos parece sempre insuficiente...

Mas este tipo de amor é indicado como caminho de perfeição, não a minha, de ser o melhor amigo dos meus amigos (porque esses podem sempre dizer que o sou). A perfeição do modo de Deus está num amor que tenho dificuldade em querer que seja também o meu modo... não chegam pequenas formas de amor, serei capaz de me converter a outras maiores?

Neto Quirino

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Fontes da Alegria


Tenho-me dado conta que a alegria pertence aos resultados de ter encontrado alguma coisa. Ou algo que se perdeu e, depois de a procurar, se encontra... ou algo que se procurava alcançar há algum tempo e finalmente se conseguiu. Ou alguém que não se via há muito tempo e se reencontra. Ou, finalmente, uma surpresa que muda muitas coisas do presente.

A alegria tem algo de abraço a um presente que acontece ou que acredito que esteja para acontecer. Aí liga-se à esperança e o coração não fica parado no pessimismo e no desânimo, ou na preguiça.

Quando algo ou alguém é encontrado e abraçado, é um presente novo que lança energias para o futuro... um tesouro que não se pode perder, por pequeno que seja. Afinal de contas, cada dia vemos o pôr do sol com as mãos cheias de surpresas...

Neto Quirino

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Respiro...

...e paro na areia, à frente do mar. Aqueles dias em que o relógio não é importante, deixo-me levar num vento forte. Que acalma, que traz mundos de longe e me leva para onde quero ir, na certeza de que encontrei o meu lugar.

Foi também perceber corações que falam debaixo das estrelas e se sentem viajantes. Aprendi que um abraço é tão livre, quando o coração sabe acolher completamente e apenas quer trazer bem e felicidade. Tenho a sorte de encontrar na minha Vida pessoas tocadas pela radicalidade de não desistirem de ser felizes. E o sonho completa-se...
Vivo com paz e felicidade. Não deixo de olhar para o que se tem de fazer... sonhar com amor não é estar desligado do chão. É inclinar-se para as coisas pequenas e fazer delas oportunidades. Sementes que dão árvores e fazem crescer sombras e abrigos. Em paisagens de mar e nuvens, ou com um castelo ao fundo.

Parece um mundo de Fantasia... mas a Vida é sempre algo grande de mais, muito maior que o abismo. É que aí também se encontram as raízes esquecidas.

Neto Quirino

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Em viagem

Tenho vontade de viajar para longe, levando comigo todo o meu mundo. O que torna os passos pesados é pensar demasiado no que perdemos quando saímos dos nossos lugares. Interessa bem pouco para o meu futuro.

A minha história faz-se de memórias e conquistas, mais que sentimentos de ter deixado algo para trás. Deixei o que me podia pesar na capacidade de sonhar com coisas longínquas. Viver um quotidiano de surpresas previsíveis acaba por ser tão pouco brilhante.

Porque no caminho mais livre se descobrem os pequenos encantos, porque não se olha para mais nada, senão para o fato de estar a conseguir caminhar de modo pleno.

Não é que tenha conseguido atingir o que quero, até porque a alegria plena está-me preparada sem que saiba no que vai consistir. Isso é melhor que uma fonte de água fresquinha no meio do deserto.

Neto Quirino

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Fazer com alegria


É bom rodear-nos de coisas bonitas e alegres... que não servem para esquecer sombras, mas para lembrar que estas não são tudo.

Hoje pensei em últimas palavras, e nas coisas que posso dizer que tenho como definitivas... são muito poucas, ou talvez nenhumas... Há uma parte da nossa experiência de ser completo, de verdadeiras formas de amar e ser amado, de certezas de caminhos a percorrer. Mas isto tem qualquer coisa de tão definitivo como sentir o vento.

É uma experiência de liberdade e confiança. É belo sentir o vento no alto da montanha, cheguei ao topo das minhas considerações e à resolução dos grandes dilemas da Vida. Mas passa depressa, fica o regressar de coração cheio as coisas de sempre, com uma nostalgia de ter voado para longe.

Porque o meu definitivo tem uma parte eterna, que nunca posso considerar minha... alguns chamam sorte, fado ou destino... Prefiro dizer que é uma eternidade presente. Vivo no meio de cores que atravessam transparências, e com as quais vivo feliz. 

Neto Quirino

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Apresentação


Apresentado. Entregue, disponível, inteiro. Eis-me aqui. São expressões de coragem e peito generoso, um modo de colocar a vida diante daquilo que for.

A chegada de uma vida ao mundo (ou a cada dia) traz consigo o nascimento de tantas possibilidades de grandeza e maravilha, e também tantas possibilidades de erro e becos escuros. Lugares de comunhão e lugares onde se fica sozinho. Espaços de comunhão e espaços de solidão. É quase inadmissível que uma vida que se deseja boa seja tão contraditória nos seus horizontes e nos seus destinos. Onde está o ponto onde os caminhos se dividem? Qual a fronteira entre a salvação e a perdição?

Cada vez me convenço mais que a questão das escolhas se decide nos seus antecedentes. É uma questão de ter definido um horizonte prévio de felicidade. Uma questão de escolher amar sem saber bem o quê em concreto. E isto tem riscos e tem consequências, mas tem, acima de tudo, uma vida que sabe onde quer estar e para onde quer ir.
 
Neto Quirino