sábado, 28 de abril de 2012

Resistência


(Sobre a questão da ausência de Deus nas contrariedades da Vida)


A Vida não é fácil, não só por causa das nossas próprias experiências de desilusão, solidão, desencanto, medo, mas também pelo panorama devastador que cada dia é posto diante de nós nas notícias. A ponto de nos deixar sem palavras e perguntarmo-nos como é possível que o mal tenha uma força tão grande, parecendo capaz de orientar e controlar a própria história.

No fundo, todos percebemos o que é o bem e o amor que podemos fazer e que poderia acontecer. Mas é um fato que isso não acontece. Somos quase desafiados ou constringidos a acreditar no bem acima de toda a razoabilidade, até haver forças... até ao momento em que não resistimos mais e atiramos a toalha ao tapete.Ponto final. Mais vale preocupar-me com um equlíbrio de vida possível sem utopias. O meu mundo tem fronteiras muito bem marcadas, onde só entra quem e o que eu quiser. Mas não sou impermeável ao mundo, tudo toca e molha a minha pele, e de repente estou diante de um castelo cheio de brechas na muralha, sem me poder defender. Podemos viver assim toda a vida...


Um professor meu descrevia a vida de hoje como um gigantesco labirinto. E a grande questão não era como encontrar o caminho para sair dele, mas sim encontrar o modo de o habitar, fazendo dele a minha casa. Aprender a perder-me, mais que procurar desesperadamente saídas irreais. Acredito que não podemos olhar o fato de experimentarmos dificuldades como algo que não deveria acontecer. Estaríamos a iludir-nos. A questão está em colocar-me na dificuldade e fazê-la minha, num exercício de verdade que pode doer. Mas só posso mudar aquilo que conheço profundamente, é a dificuldade que me fará crescer em criatividade e serenidade. Olhando a nossa história, vemos que as crises foram momentos essenciais para sermos o que hoje somos. Mas não nos lembramos disso muitas vezes...

Neto Quirino

segunda-feira, 23 de abril de 2012

É o que trago


O que temos para dar são coisas pequenas. Ao menos quando, cada dia, pensamos no que podemos fazer para mudar a nossa vida, ou a vida dos outros para algo melhor ou mais completo. Há outras alturas em que nos é pedido passos de gigante, mesmo que não seja preciso um gesto extraordinário, apenas uma aceitação confiada das coisas da alma.

De todos os modos, a nossa normalidade é cheia de coisas muito comuns, deste tipo de encolher os ombros e dizer que não foi nada de especial. Mas foi grande e foi bonito. Foi disponibilidade nossa de acreditar no bem possível das coisas boas que fazemos cada dia.

Um dia alguém perguntou se fazer sempre o bem é difícil. Acho que não, porque é muito mais natural em nós, é diferente o que se sente depois de fazer o bem, ou quando nos damos conta que o deixamos de fazer. O que é difícil é querer fazê-lo sempre, com uma disponibilidade de todos os dias, sem preguiça e com alegria. Mas a vontade e o sorriso também são naturais em nós...

Neto Quirino

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Felicidade

Obs: Brenito, usei sua foto! :p

Quando poderemos afirmar a nossa felicidade? Parece que sempre a associamos a momentos fugidios e pontuais, em que tivemos a sorte que todas as circunstâncias se combinassem em momentos perfeitos e completos. Mas se passa, quer dizer que seria um completo aparente, um relâmpago de paraíso sonhado e perdido. Ou então não tivemos a capacidade de ir além do momento e perceber a sua eternidade.

A felicidade é uma conquista livre e quotidiana. É uma persistência num olhar que se mantém igual em diferentes paisagens.

A felicidade completa é um futuro e um presente. Sempre a buscamos e encontramos quando descemos em nós e percebemos experiências que nos definem desde sempre. A grande experiência da vida é a sua capacidade de surpreender e desafiar os nossos fundamentos. Põem em questão o material de que somos feitos, entre incapacidades e realizações que nos deixam perplexos do quanto somos capazes quando existimos em confiança e serenidade. Aí nada nos poderá tirar a paz.

Neto Quirino

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Este Mistério


As coisas pequenas escondem mistérios. Por detrás da porta daquilo que me acontece, sou desafiado a ler sinais. Mas sem estar demasiado fixado em querer encontrar mais explicações e sentidos, quando algo é óbvio e simples.

Acredito que o Mistério escondido se pressente além de toda a cor e toque. Em ocasiões especiais, sobretudo naquelas que não se esperam. Talvez o mais difícil seja parar e olhar com outros olhos. Ou, no caso de ser uma coisa menos boa, não querer estar a perceber os motivos. Há sempre tanto que fazer....

Perceber o Mistério requer tempo e coragem. Um coração aberto, e já sensível no começo. Capaz de agradecer e fazer caminho. É mesmo bom quando se descobrem rumos passados nos acontecimentos presentes. Confirmam o futuro.

Neto Quirino

terça-feira, 10 de abril de 2012

Lugares comuns


No fundo do quintal da casa, existe uma zona de arrumações. Para além do muro, estende-se um campo imenso, de céu e árvores. Sem lugar para uma cadeira, nem sítio para estender as pernas e ler um livro. Não fica bonito estar ali, no meio do estendal.

Entretanto, passam meses sem lá ir.... chegou a altura de andar por outras paragens, a vida agita-se assim normalmente sem fazer mal a ninguém.

Numa cidade muito longe, num fim de tarde. Passear pelas ruas escondidas... aquelas que nem entram nas fotografias. Através de muros que escondem os fundos dos quintais. Ouvem-se as vozes, ou o som de qualquer coisa a ser atirada para ali...

Os sons da nostalgia... em cada lugar distante de nós ouvem-se os mesmos gestos, que trazem o calor de casa. Sobretudo aqueles de todos os dias, que despertam aquela vontade de ser mais simples... e mais profundo em tudo o que é comum.


Neto Quirino

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Sabes o que te fiz?


Não sei... sinceramente é difícil perceber a totalidade daquilo que me ultrapassa.

Olhar para a cruz é o que me move a ser feito. Sem perguntar nada nem querer saber nada, com uma só pergunta... Sabes o que te fiz?

Quando recebemos algo grande de mais, ou não acreditamos, ou não somos capazes de ver tudo. Às vezes por medo ou preguiça de corresponder.

Nas coisas do amor, não se devolve nada. Apenas se pode transformar. Isso é grandioso... Um mistério de alguém que morre por mim, só pode fazer mudanças em mim. Não me deixa indiferente, senão, seria uma pedra, ou um lago de águas paradas... E não quero mesmo ficar com esta ideia de que já tenho tudo e preciso fazer pouco.

Não estaria a responder à pergunta.